Os Lusíadas e a Imaginação Onírica: Perspectivas Neuroliterárias
DOI:
https://doi.org/10.46531/sinapse/AP/178/2025Palavras-chave:
História do Século XVI, Literatura, Neurociências, SonhosResumo
No contexto do quinto centenário de Luís de Camões, este artigo investiga a representação dos sonhos n’Os Lusíadas através de uma abordagem interdisciplinar que combina literatura e neurociência. Uma busca sistemática das ocorrências dos termos "sonho" e "sonhos" ao longo da epopeia revela como Camões transforma a imaginação onírica num dispositivo narrativo multifacetado. A análise demonstra que os sonhos na obra camoniana não são meros recursos estilísticos, mas elementos estruturais que articulam três dimensões essenciais: os conflitos internos das personagens, as aspirações heróicas da narrativa e as ansiedades psicológicas inerentes à viagem marítima. Vasco da Gama, protagonista central, é profundamente influenciado por experiências oníricas - tanto as suas como as de outras personagens - que refletem os seus medos, desejos e busca de transcendência. Ao explorar estas passagens, o estudo identifica um diálogo complexo entre as conceções renascentistas de intervenção divina e o legado das epopeias clássicas. Além disso, ao dialogar com a neurobiologia contemporânea dos sonhos, demonstra como as descrições oníricas de Camões podem ser interpretadas à luz de processos cognitivos hoje mapeados pela ciência - como a vivacidade visual, associada ao córtex occipital, e a intensidade emocional, ligada à atividade da amígdala durante o sono REM. Estas conexões, embora interpretativas, destacam uma relação entre a obra e os avanços científicos atuais. Esta perspetiva interdisciplinar enriquece a compreensão d’Os Lusíadas, mostrando como a sua representação do universo onírico permanece relevante e dialoga com as mais recentes investigações sobre a mente humana.
Downloads
Referências
Camões L. Os Lusíadas [Internet]. Project Gutenberg; 2007 [citado 2025 abr 4]. Disponível em: https://www.gutenberg.org/ebooks/3333 Camões L.
Camões L. Os Lusíadas [Internet]. Ramos EP, editor. Porto: Porto Editora; 1972. Disponível em:https://archive.org/details/os-lusiadas-luis-de-camoes/page/106/mode/2up? q =sonhos
Ferro M. O sonho na épica quinhentista. Camões e Tasso em confronto. Imaginação e Literatura. Série “Leonardo” 5, 2009, 5: 53-83
Nir Y, Tononi G. Dreaming and the brain: from phenomenology to neurophysiology. Trends Cogn Sci. 2010;14(2):88-100.
Hobson JA, Pace-Schott EF. The cognitive neuroscience of sleep: neuronal systems, consciousness and learning. Nat Rev Neurosci. 2002 Sep;3(9):679-93.
Mutz J, Javadi AH. Exploring the neural correlates of dream phenomenology and altered states of consciousness during sleep. Neurosci Conscious. 2017;2017(1):nix009.
Sterpenich V, Perogamvros L, Tononi G, Schwartz S. Fear in dreams and in wakefulness: Evidence for day/night affective homeostasis. Hum Brain Mapp. 2020;41(3):840-850.
Raichle ME. The brain's default mode network. Annu Rev Neurosci. 2015 Jul 8;38:433-47. doi: 10.1146/annurev-neuro-071013-014030.
Ramon M. Sonho de Dom Manuel, em Os Lusíadas edição de 1636 por Manuel Faria e Sousa, Edição Fac similada. INCM, 1972. https://repositorium.sdum.uminho.pt/ bitstream/1822/61301/1/ Sonho%20de%20D.%20Manuel%20final.pdf
Simor P, Peigneux P, Bódizs R. Sleep and dreaming in the light of reactive and predictive homeostasis. Neurosci Biobehav Rev. 2023;147:105104.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2025 Marleide de Mota Gomes, António Martins da Silva

Este trabalho encontra-se publicado com a Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0.