Os Lusíadas e a Imaginação Onírica: Perspectivas Neuroliterárias

Autores

  • Marleide de Mota Gomes Faculdade de Medicina, Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria e Saúde Mental, Instituto de Psiquiatria, Instituto de Neurologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil https://orcid.org/0000-0001-8889-2573
  • António Martins da Silva Unidade Local de Saúde de Santo António – Porto, Portugal; ICBAS (Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto), Porto, Portugal https://orcid.org/0000-0003-1364-5724

DOI:

https://doi.org/10.46531/sinapse/AP/178/2025

Palavras-chave:

História do Século XVI, Literatura, Neurociências, Sonhos

Resumo

No contexto do quinto centenário de Luís de Camões, este artigo investiga a representação dos sonhos n’Os Lusíadas através de uma abordagem interdisciplinar que combina literatura e neurociência. Uma busca sistemática das ocorrências dos termos "sonho" e "sonhos" ao longo da epopeia revela como Camões transforma a imaginação onírica num dispositivo narrativo multifacetado. A análise demonstra que os sonhos na obra camoniana não são meros recursos estilísticos, mas elementos estruturais que articulam três dimensões essenciais: os conflitos internos das personagens, as aspirações heróicas da narrativa e as ansiedades psicológicas inerentes à viagem marítima. Vasco da Gama, protagonista central, é profundamente influenciado por experiências oníricas - tanto as suas como as de outras personagens - que refletem os seus medos, desejos e busca de transcendência. Ao explorar estas passagens, o estudo identifica um diálogo complexo entre as conceções renascentistas de intervenção divina e o legado das epopeias clássicas. Além disso, ao dialogar com a neurobiologia contemporânea dos sonhos, demonstra como as descrições oníricas de Camões podem ser interpretadas à luz de processos cognitivos hoje mapeados pela ciência - como a vivacidade visual, associada ao córtex occipital, e a intensidade emocional, ligada à atividade da amígdala durante o sono REM. Estas conexões, embora interpretativas, destacam uma relação entre a obra e os avanços científicos atuais. Esta perspetiva interdisciplinar enriquece a compreensão d’Os Lusíadas, mostrando como a sua representação do universo onírico permanece relevante e dialoga com as mais recentes investigações sobre a mente humana.

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Referências

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Publicado

2025-08-19

Como Citar

1.
de Mota Gomes M, Martins da Silva A. Os Lusíadas e a Imaginação Onírica: Perspectivas Neuroliterárias. Sinapse [Internet]. 19 de Agosto de 2025 [citado 21 de Agosto de 2025];25:15-2. Disponível em: https://sinapse.pt/index.php/journal/article/view/178

Edição

Secção

Perspetiva