Síndrome de Rasmussen: Análise de uma Série de Doentes num Centro de Referência de Epilepsia Refratária e Revisão da Literatura

Autores

  • Miguel Serôdio Serviço de Neurologia / Centro Hospitalar Lisboa Ocidental, Lisboa, Portugal
  • Marcela Pires Serviço de Pediatria / Centro Hospitalar Lisboa Ocidental, Lisboa, Portugal
  • Laura Azurara Serviço de Pediatria / Centro Hospitalar Lisboa Ocidental, Lisboa, Portugal
  • Alexandra Santos Serviço de Neurocirurgia / Centro Hospitalar Lisboa Ocidental, Lisboa, Portugal
  • Francisca Sá Serviço de Neurologia / Centro Hospitalar Lisboa Ocidental, Lisboa, Portugal
  • Rita Silva Serviço de Neurologia Pediátrica / Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central, Lisboa, Portugal
  • Nuno Canas Serviço de Neurologia / Centro Hospitalar Lisboa Ocidental, Lisboa, Portugal
  • José Carlos Ferreira Serviço de Neurologia / Centro Hospitalar Lisboa Ocidental, Lisboa, Portugal
  • Pedro Cabral Serviço de Neurologia / Centro Hospitalar Lisboa Ocidental, Lisboa, Portugal

DOI:

https://doi.org/10.46531/sinapse/AO/230070/2023

Palavras-chave:

Criança, Encefalite/diagnóstico por imagem, Encefalite/fisiopatologia, Encefalite/tratamento farmacológico

Resumo

Introdução: A síndrome de Rasmussen (SR) é uma doença imunomediada rara de início predominantemente infantil, com epilepsia refratária e défices neurológicos associados a hemiatrofia cerebral progressiva. O mecanismo fisiopatológico não é bem compreendido e o efeito da imunoterapia não está esclarecido. A cirurgia hemisférica surge como terapêutica eficaz para a epilepsia, apesar das sequelas focais e cognitivas. Não estão ainda definidas terapêuticas curativas nem o tempo ideal de cirurgia. O objetivo do nosso estudo é descrever uma série de casos pediátricos com SR avaliados no nosso Centro de Referência de Epilepsias Refratárias e comparar os nossos resultados com a literatura existente.
Métodos: Revisão de características clínicas, neurofisiológicas, imagiológicas, terapêuticas e prognóstico de doentes pediátricos avaliados no nosso centro com o diagnóstico de SR desde 2006.
Resultados: Foram incluídas oito crianças (idade mediana no início da clínica 8,0 anos). Sete apresentando disfunção do hemisfério esquerdo. Até à cirurgia/momento atual, quatro tinham epilepsia partialis continua, seis défices focais e quatro défice cognitivo. A maioria evidenciava atrofia e hipersinal T2 unilateral na última ressonância magnética (RM) cranioencefálica com predomínio na região frontal. Todos apresentavam na última avaliação vídeo-EEG atividade epileptiforme interictal ipsilateral ao hemisfério afetado e um doente também no hemisfério contralateral. Em três usou-se PET/SPECT, e em dois RM-funcional para lateralização da linguagem. Quatro foram operados (três hemisferectomias, uma resseção frontal), sendo todos previamente tratados com imunoglobulina, corticoterapia em três e tacrolimus em dois. Ao primeiro ano após cirurgia, dois casos ficaram livres de crises, os restantes com uma franca melhoria da frequência de crises; o doente submetido a resseção frontal não apresentou sequelas pós-cirúrgicas, os restantes ficaram com sequelas motoras e cognitivas (um apresentou melhoria da linguagem). Nos casos não operados, todos mantêm epilepsia refratária com pelo menos quatro fármacos anti-crises epiléticas, tendo três realizado imunoglobulina, dois corticoterapia e um tacrolimus.
Conclusão: A abordagem da SR é desafiante em relação ao controlo das crises e minimização das sequelas inerentes à cirurgia. A nossa amostra reflete os dados da literatura, nos quais a hemisferectomia é a forma mais eficaz de controlar as crises, condicionando, contudo, elevada morbilidade, sendo atualmente controverso o momento para a sua realização.

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Publicado

2024-01-22

Como Citar

1.
Serôdio M, Pires M, Azurara L, Santos A, Sá F, Silva R, et al. Síndrome de Rasmussen: Análise de uma Série de Doentes num Centro de Referência de Epilepsia Refratária e Revisão da Literatura. Sinapse [Internet]. 22 de Janeiro de 2024 [citado 21 de Dezembro de 2024];23(4):188-97. Disponível em: https://sinapse.pt/index.php/journal/article/view/3

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